Espontáneamente, Barbara minha filha e eu decidimos pintar e comecamos a lançar tinta sobre uma tela de maneira que pudessemos expor o que naquele momento surgia naturalmente e expressaria nossos 'segredos' . Me permiti fugir da rotina nesse instante, quando fui interrompida com o telefonema da minha querida irmã Marlene.
A surpresa e o sorriso iluminou meu rosto e mesmo que ela não pudesse ver, certamente podia sentir a alegria ao falar com ela.
Interessada em saber o que estava fazendo, perguntou e a resposta veio de imediato - 'arte'. Ela com um suspiro e ar de quem lembrou de algo importante, me disse ..
- Ma..., sabe que me veio a memoria um dia desses? A mamãe, gostava muito de desenhar e pintar flores, você se lembra?
E continuou.."Lembra-se quando ela desenhava no papel de pão e em um caderno, as flores com galhos e folhagens grandes?
Lamentavelmente, custou me abrir a gavetas da memoria e encontrar esses momentos vividos com minha mãe, afinal são 30 anos de sua ausência. Marlene, ainda me dizia
- Você 'puxou' a ela. e continuou...
- Se ela tivesse uma maquina fotográfica na época, iria tirar fotos de flores e copiar -las.
Naquele momento a voz ficou embargada, mas consegui ainda dar um sorriso.
Era verdade, na velha casa germinada na Casa Verde, na rua Matilde, 777, sentada sobre o piso vermelho brilhante, ao lado da porta, ela parava para descansar depois de um árduo trabalho diário e buscava encontrar um tempinho conosco. Enquanto disputavamos quem ia ficar do lado dela para ve la desenhar, ela calmamente chamava uma para sentar aos seus pés.
Quando não estava desenhando suas flores e tentando nos demonstrar seu' conhecimento artístico' com as canetinhas da Bic, nos chamava para sentar se entre suas pernas e aproveitando ficava olhando nossas cabeças, para ver se não tínhamos piolhos.
Mas que ver ela desenhar e aprender as 'técnicas' acredito, que o desejo maior era ficar ao seu lado.
Hoje me dou conta, que os papeis de pão, guardanapos, ou outra folha com os desenhos preciosos que ela fazia, foram abandonadas e jogadas em um espaço pequenino da memoria. Parece que não dei muita importância aquilo.
Conversando com Marlene, essa gavetinha da memoria foi lentamente aberta e depois de eliminar o pó acumulados por tantos anos, os momentos maravilhosos com ela, sentada na porta da sala com vista para um pequeno corredor de flores mal cuidado e olhares para o Duque, nosso cachorro vira-lata, vieram a tona.
Hoje, penso que poderia fazer daqueles momentos mais especiais, mas não sabia que o tempo dela era tão curto ao nosso lado.
Não fiz... e hoje fica as saudades e as vagas lembranças. A nuvem do tempo ocultou as memorias vivas e minha voz ficou embargada quando já não podia lembrar com perfeição os detalhes que minha irmã descrevia.
As vezes na caixinha da memoria, os momentos lindos são guardados e depois sufocados, abarrotados com momentos menos favoráveis que a nuvem do tempo sopra e deixa acumular o 'lixo' que preferimos guardar, deixando as gavetas infestadas quase impossíveis de serem abertas.
Hoje, já não tão criança na idade, mas com uma viva la dentro de mim, ainda estou aprendendo a não deixar muitas vezes o' lixo' da nuvem do tempo,acumular nas gavetas da minha memoria e tentar guardar as coisas boas vividas com os relacionamentos que fazem parte do nossa vida. Confesso que muitas vezespreciso de ajuda.
Meu desejo e que minhas filhas possam guardar nas suas gavetas o abstrato e o concreto desses momentos registrados na tela ou não e mais que isso,que aprendam não acumular lixo sobre esses momentos pelos equívocos que como pais muitas vezes praticamos.
Meu desejo e que minhas filhas possam guardar nas suas gavetas o abstrato e o concreto desses momentos registrados na tela ou não e mais que isso,que aprendam não acumular lixo sobre esses momentos pelos equívocos que como pais muitas vezes praticamos.
Mazinha..obrigada por abrir essa gaveta tão preciosa que estava tão escondidinha la na minha memoria.Te amo querida.
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