by Marli Camargo |
Quantas desgraças Lembram teus ais.
Quanta tristeza, Sem o perdão
De chorar pesa No coração.
E ó vento vago Das solidões
Traze um afago aos corações.
À dor que ignoras
Presta os teus ais,
Vento que choras nos pinheirais.
Sopra o vento, sopra o vento,
Sopra alto o vento lá fora;
Mas também meu pensamento
Tem um vento que o devora.
Há uma íntima intenção
Que tumultua em meu ser
E faz doer meu coração
O que um vento quer varrer;
Não sei se há ramos deitados
Abaixo no temporal,
Se pés do chão levantados
Num sopro onde tudo é igual.
Dos ramos que ali caíram
Sei só que há mágoas e dores
Destinadas a não ser
Mais que um desfolhar de flores.
Fernando Pessoa.
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